domingo, 1 de maio de 2011

Efeitos colaterais


-Dr., que tipo de intervenção medicamentosa é essa? Disse Arnaldo se demorando na palavra "medicamentosa" que tinha ouvido do médico.
-Não é nada de mais. Na verdade é bem simples. Tome esse remédio... e escreveu na receita.
-Tome esse remédio - continuou o médico - e em dez dias nós conseguiremos o efeito que desejamos.
O médico sorriu estendendo a receita para que Arnaldo pegasse e falou:
-Não precisa se preocupar, nós temos tudo sob controle. E além disso, muita gente já passou por isso e estão todos bem, aliás não tenho ouvido reclamações, pelo contrário, tenho até recebido elogios pela eficácia do tratamento.
-Mas Dr. esse tratamento é muito antinatural...
- E quem disse que ser antinatural é ruim - interrompeu o médico.
- Se seguissemos estritamente o que a natureza nos ordena continuaríamos vivendo apenas 20 anos- continuou.


Isso bastava para Arnaldo, estava satisfeito, iria fazer o tratamento. Ademais ouvira na televisão, alguns anos antes, sobre este tratamento revolucionário que, de uma vez por todas, daria ao homem o status de divino que os antigos tanto desejavam. Pensava sobre isso enquanto saía da clínica e se dirigia para o estacionamento.
- Droga, esqueci de perguntar ao Dr., sobre os efeitos colaterais... sussurou enquanto entrava no veículo.

Google

tratamento para remanejamento energético dos escrementos.

Leu algumas páginas na internet sobre o assunto e não demorou para encontrar sites que comentavam sobre os efeitos colaterias do tratamento. Gostaria do que tinha lido a menos que não tivesse considerado o seu modo de vida. Trabalhava como professor de História em uma escola do subúrbio. Não pensava mais para dar suas aulas. Não lia, não se interessava mais sobre a história da humanida, talvez odiasse História. Desempenhava o seu papel de professor mecanicamente, ele não fazia mais nada de instigante nem criativo.

O texto da internet sobre os efeitos colaterais do tratamento dizia que o ato de defecar jamais seria preciso novamente, pois tudo o que o homem consumisse seria aproveitado pelo organismo atrés de reações químicas provocadas pela admistração da substância xxx. Por isso os pacientes ficariam mais criativos, mais inteligentes e produtivos. A arte é um caminho aconselhado pelos médicos. Arnaldo não queria mudar sua rotina, queria defecar pela manhã vendo suas revistas de mulher pelada, tomar café demoradamente como se não tivesse mais nada pra fazer na vida e depois limpar a mente para ir trabalhar.Era só o que queria, mas foi forçado a esse tratamento devido aos reincidentes problemas de hemorróidas.

Arnaldo ao longo dos dez dias lutou contra a criatividade, contra todo tipo de desejo de se expressar artisticamente. Esse desejo nunca veio, percebeu que não precisaria lutar contra algo que não existia absolutamente. Até ia para o vaso sanitário pela manhã, mesmo sabendo que isso não fazia sentido. Pelo menos não tinha de dar satisfações a ninguém sobre essas vaidades, pois o prof. Arnaldo morava sozinho desde o fim da faculdade. Apenas algumas visitas de vez em quando de alguma amiga ou putas para as quais o salário de professor era talvez curto de mais.

Acordou, fez o seu ritual diário, saiu para rua fumando um charuto, coisa que nunca tinha fumado antes (até maconha já fumara na universidade, mas nunca um charuto), fato que deixou ele preocupado, pensando se enfim o tratamento não tinha seu primeiro indício de efeito colateral. Entrou na sala como de costume e colocou a sua pasta sobre a mesa e, passados alguns minutos, no meio de uma aula sobre as primeiras civilizações, quando um aluno bocejava e o outro já estava recostado sobre a mesa da carteira...

- Mesopotâmia é uma palavra de origem grega que significa...

Baaaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnngggggggggggggggggggggggggggg.

Um grande estouro se produziu. Tudo se iluminou e foram vistos homenzinhos sobre a mesa do prof. Arnaldo construindo pirâmides com a ajuda de outros seres de aspecto estranho, parecidos com o Piu-piu do desenho animado de "Piu-piu e Frajola".

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