A visão, talvez o sentido mais sedutor de que dispomos, é tema do filme em questão intitulado Janela da alma. Partindo de uma compreensão da visão ou da vista enquanto capacidade instrumental orgânica do homem, passa-se a uma compreensão do olhar como uma maneira especial de visão, que não apenas apreende ou recepta imagens de um mundo externo a nós, mas que cria, modifica, enfim, transforma a realidade dita objetiva.
Os vários comentários de pessoas deficientes visuais corroboram a perspectiva de que a visão não é apenas um recolhimento de dados sensoriais que recebemos de fora, mas que nosso olhar é condicionado por sentimentos e emoções que geralmente não ligamos ao fato visto. A deficiência visual evidencia que a realidade não é só o que percebemos, mas vai muito além disso. Será que o visualmente são vê a realidade exatamente como ela é? E será que quando selecionamos o que vemos pelo grau de importância que lhe damos não estamos influenciando na realidade que vemos? As respostas para ambas as perguntas são afirmativas. Sim, modificamos a realidade em dois níveis, um nível particular, em que as emoções e sentimentos alteram o olhar de um indivíduo e, num nível universal, em que todos os homens pelo fato de compartilharem o mesmo aparato mental criam uma realidade à maneira dos homens.
O artista está sempre habituado a este olhar particular e o exprime de maneira que seu mundo de sensações e impressões é exposto a um espectador que descobre no olhar do artista que seu próprio mundo não é tão objetivo quanto parecia. O artista desperta no espectador a consciência de que seu olhar é também específico e modificador da realidade.