quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Janela da alma


A visão, talvez o sentido mais sedutor de que dispomos, é tema do filme em questão intitulado Janela da alma. Partindo de uma compreensão da visão ou da vista enquanto capacidade instrumental orgânica do homem, passa-se a uma compreensão do olhar como uma maneira especial de visão, que não apenas apreende ou recepta imagens de um mundo externo a nós, mas que cria, modifica, enfim, transforma a realidade dita objetiva.

Os vários comentários de pessoas deficientes visuais corroboram a perspectiva de que a visão não é apenas um recolhimento de dados sensoriais que recebemos de fora, mas que nosso olhar é condicionado por sentimentos e emoções que geralmente não ligamos ao fato visto. A deficiência visual evidencia que a realidade não é só o que percebemos, mas vai muito além disso. Será que o visualmente são vê a realidade exatamente como ela é? E será que quando selecionamos o que vemos pelo grau de importância que lhe damos não estamos influenciando na realidade que vemos? As respostas para ambas as perguntas são afirmativas. Sim, modificamos a realidade em dois níveis, um nível particular, em que as emoções e sentimentos alteram o olhar de um indivíduo e, num nível universal, em que todos os homens pelo fato de compartilharem o mesmo aparato mental criam uma realidade à maneira dos homens.

O artista está sempre habituado a este olhar particular e o exprime de maneira que seu mundo de sensações e impressões é exposto a um espectador que descobre no olhar do artista que seu próprio mundo não é tão objetivo quanto parecia. O artista desperta no espectador a consciência de que seu olhar é também específico e modificador da realidade.

Até mesmo um cego é detentor de um “olhar” particular, e que, contraditoriamente pode ver mais que uma pessoa de olhos totalmente sadios. Em nossa atual sociedade em que imagens assaltam a nossa vista, já não olhamos mais nada, apenas vemos cegamente uma multiplicidade indistinta de cores e formas.

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