Para quem estiver interessado nas minhas pesquisas anteriores, aí vai o link para baixar minha monografia. Arrependo-me de algumas coisas, sinto vergonha de outras, mas me sinto satisfeito com o resultado que obtive naquele tempo.
http://www.4shared.com/office/Oyot49DT/MONOGRAFIA.html
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
O simulacro segundo Baudrillard
Renato
dos Santos Barbosa
Utilizando a imagem da cartografia,
tomada de empréstimo a Borges em seu minúsculo conto intitulado “Do rigor da ciência”[1],
J. Baudrillard enseja a definição do conceito de simulacro. O simulacro de
Baudrillard já não tem a ver com o falso, enganoso ou meramente aparente em
detrimento de uma instância verdadeira, real e substancial. O real e verdadeiro
já não podem mais ser objeto de emulação porque já não há “real” e
“verdadeiro”. Diferente da imagem do grande mapa que cobria toda a extensão do
império, sendo uma representação perfeita do território real, o simulacro, por
sua vez, não representa nada, pois não há nada por trás do simulacro.
Hoje a abstração já não é a do
mapa, do duplo, do espelho ou do conceito. A simulação já não é a simulação de
um território, de um ser referencial, de uma substância. É a geração pelos
modelos de um real sem origem nem realidade: hiper-real. O território já não
precede o mapa, nem lhe sobrevive. É agora o mapa que precede o território –
precessão dos simulacros – é ele que engendra os territórios cujos fragmentos
apodrecem sobre a extensão do mapa. É o real, e não o mapa, cujos vestígios subsistem
aqui e ali, nos desertos que já não são os do império, mas o nosso. O deserto
do próprio real. (BAUDRILLARD, 1991, p.8)
O
simulacro precede o real e não o contrário. Mudança significativa em relação
aos pensadores metafísicos que, diante de um mundo de aparências e
multiplicidade, buscavam a verdade e a unidade escondida sob uma torrente de
simulacros atordoantes. Para este exemplo basta citar o nome de Platão que,
inclusive no seu diálogo a República,
mapeou no pensamento a cidade ideal, portanto, verdadeira e real que se
escondia sob o simulacro fantasmagórico da cidade que lhe aparecia aos
sentidos.
Simular não é fingir ou
dissimular, pois estes últimos preservam a sua diferença em relação ao real,
enquanto o primeiro dissolve a diferenciação entre real e irreal, verdadeiro e
falso. “Logo fingir, ou dissimular,
deixam intacto o princípio de realidade: a diferença continua a ser clara, está
apenas disfarçada, enquanto que a simulação põe em causa a diferença do
‘verdadeiro’ e do ‘falso’, do ‘real’ e do ‘imaginário’” (Ibidem, p.
9-10). A simulação e o simulacro, portanto, produzem uma substituição do real,
em que estava implicada a diferença entre verdadeiro e falso, pelo hiper-real.
Um doente que simula os sintomas de uma doença não está doente? Como se
comporta a medicina diante de simulações de doença que geram sintomas tais
quais as doenças “verdadeiras”? Não há o que fazer, senão, combatê-las como
verdadeiras doenças. Na hiper-realidade o simulado é tratado como tudo mais. A
simulação de um assalto ou sequestro gera as mesmas consequências de um evento
dito “real”: a ação da polícia, reações de pânico e etc.
Baudrillard exemplifica
o poder do simulacro com a ojeriza do Deus judaico às imagens. Era vetada toda
e qualquer tentativa de forjar imagens que representassem a divindade. E por
quê? Porque os simulacros divinos terminariam por denunciar que não estavam
representando nada, que não havia divindade alguma por trás das imagens. “Mas o seu desespero metafísico (o da
religião) provinha da ideia de que as imagens não escondiam absolutamente nada
e de que, em suma, não eram imagens, mas, de fato simulacros perfeitos, para
sempre radiantes no seu fascínio próprio”. (Ibidem, p. 11). O
filósofo francês elenca, assim, as fases pelas quais passa as imagens e o
simulacros: primeiro ela mascara uma realidade profunda; depois ela deforma uma
realidade profunda; mais tarde ela dissimula a ausência de uma realidade
profunda e, por fim, ele não tem qualquer relação com a realidade, ela é seu
próprio simulacro puro. É nesta última fase que nos encontramos.
Vivemos numa teia de simulacros que
incluem, também, simulacros de terceira categoria. Assim como os iconólatras
estavam conscientes de que as imagens nada representavam e, no entanto,
defendiam-se dos iconoclastas para garantir a manutenção do “real”, assim o
poder injeta grandes quantidades de realidade na população (Cf. Ibidem, p. 32) através de simulacros de terceira categoria, na tentativa de
manter o mundo em “ordem”. O que é a Disneylândia, senão, um mundo “imaginário”
que faz com que ao sair de lá nos convençamos que estamos voltando para o mundo
real? O problema disso é que o mundo real é tão real quanto a Disneylândia.
Ambos não passam de simulacros.
No entanto, como viver segundo esta
ontologia dos simulacros? A verdade já não importa e somos conscientes de que
nada há por trás dos simulacros. Devemos fazer de conta de que é real assim
como os iconólatras? Ou, por outro lado, devemos ser iconoclastas que nada
podem repor no lugar das imagens, a não ser outras imagens? A possibilidade do
diverso, da pluralidade de formas de se viver surge como aspecto positivo da
consciência da hiper-realidade. Isso permite a autonomia total dos homens
enquanto doadores de sentido e criadores de seu mundo. No entanto, a falta de
sentido momentânea que se estabelece entre o momento pós-destruição das velhas
imagens, deixa-nos aturdidos e angustiados.
Bibliografia
BAUDRILLARD,
J. Simulacros e simulação. Trad.
Maria João da Costa Pereira. Lisboa: Relógio d’água, 1991.
[1] Naquele
Império, a Arte da Cartografia logrou tal perfeição que o mapa de uma única
Província ocupava toda uma Cidade, e o mapa do império, toda uma Província. Com
o tempo, esses Mapas Desmedidos não satisfizeram e os Colégios de Cartógrafos
levantaram um Mapa do Império, que tinha o tamanho do Império e coincidia
pontualmente com ele. Menos Adictas ao Estudo da Cartografia, as Gerações
Seguintes entenderam que esse dilatado Mapa era Inútil e não sem Impiedade o
entregaram às Inclemências do Sol e dos Invernos. Nos desertos do Oeste
perduram despedaçadas Ruínas do Mapa, habitadas por Animais e por Mendigos; em
todo o País não há outra relíquia das Disciplinas Cartográficas. (Jorge
Luis Borges, História Universal da Infâmia, 1935. Disponível em: <http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/rigor.html>).
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