quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nietzsche - Verdade e Mentira


Nietzsche em seu texto intitulado Verdade e mentira no sentido extra-moral denuncia, nos primeiros parágrafos, a vaidade do conhecimento humano, a contradição do impulso a verdade e sobre as raízes enganosas de nosso intelecto. Relacionaremos aqui os conceitos: homem, intelecto e realidade, buscando compreender a denúncia Nietzschiana ao que toda tradição filosófica chamou de verdade.

Embora seja um animal frágil, o homem se julga o ápice da “criação divina”. Julga-se a única espécie capaz de desvendar os segredos do universo. Mas essa soberba quer esconder o caráter fugaz e gratuito de sua existência. Por trás da inventividade dos seus mitos originários cheios de glória residem fraquezas e insuficiências diante da imensidão cósmica. É, justamente, por causa da falta de vigor de sua espécie que os homens inventaram o conhecimento.

Como pode uma bengala sobrepujar uma perna? Essa pergunta metafórica resume bem o que aconteceu com o homem: seu intelecto derivado de sua fraqueza outorgou para si o lugar de proeminência na natureza. Desprovidos de garras e chifres, o homem se valeu do engano e da dissimulação para obter vantagens que não teria naturalmente. E, contraditoriamente, o intelecto que surgiu com o fito de enganar se quer como meio para a verdade.

Nada é mais estranho que o impulso à verdade. O homem esqueceu-se de sua criação, esqueceu-se que a verdade e a mentira foram estabelecidas por convenção e que aquilo que ele julga estar distante quando mente e perto quando diz a verdade não chega nem a riscar de leve a realidade. O ser humano pode ser comparado a um surdo que crê saber o que é a experiência de ouvir música por ler uma partitura. A realidade está para lá da verdade do homem.

Assim, o homem pensa estar de posse do conhecimento verdadeiro do mundo, mas, no mais das vezes, esse conhecimento verdadeiro não se adéqua nem mesmo à verdade enquanto convenção por ele mesmo estabelecida. Se, de fato, há uma verdade, o homem está, talvez, terminantemente longe dela, pois a verdade convencionada pelos homens encobre a possibilidade de se conhecer “a coisa em si”.