sábado, 18 de julho de 2009

O ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM



O argumento do terceiro homem aparece no livro Α da Metafísica de Aristóteles. Esse argumento é uma das críticas do estagirita ao seu mestre Platão, porém Aristóteles não tem o mérito de ter formulado essa crítica, pois esta já tivera sido feita por um sofista contemporâneo de Platão chamado Polixemo e o próprio Platão faz um tipo de autocrítica no seu diálogo Parmênides acerca desse mesmo problema de sua teoria.
Esse argumento é uma crítica a teoria das idéias, pois afirma que se tomar-mos como verdadeira a existência das Formas eternas, estas se multiplicariam infinitamente em suas relações com as coisas sensíveis. Antes de esclarecer esse ponto relembraremos um pouco da teoria platônica.
A teoria das Idéias supostamente resolveria o problema da unidade e multiplicidade de uma mesma coisa, tendo em vista que, embora as coisas sensíveis fossem, ora grandes, ora pequenas, e, portanto múltiplas, as idéias eternas e unas preservariam a unidade do ser. Entretanto, pelo fato de só conhecermos algo em sua unidade ideal, por exemplo: só conhecemos os vários livros existentes devido à idéia eterna e una de livro (lembrando que Heráclito que influenciou profundamente a filosofia de Platão, afirmara que a natureza está num eterno fluir, de modo que seria impossível apreender algo corruptível com o pensamento), o que justifica para Platão a necessidade da teoria das Idéias, a qual afirma que os vários livros existentes são cópias semelhantes às idéias paradigmáticas e perfeitas.
Por conseguinte a presente crítica discutida se baseia no fato de que essa semelhança (ομοιον) que fundamenta a teoria das idéias a torna absurda, pois um livro é semelhante ao outro devido à Participação (μετεξις), que se dá através da idéia de semelhança que os tornam semelhantes, e se olharmos com a alma essa relação: livros→ LIVRO[1] é necessário que aja outra Idéia que torne semelhante a presente forma com os livros sensíveis, e essas relações se estenderiam ao infinito, o que torna a teoria das Idéias uma complexidade desnecessária para explicar a realidade.Essa explicação do argumento do terceiro homem se baseia predominantemente no diálogo Parmênides e não na Metafísica de Aristóteles, onde a crítica é nomeada como argumento do terceiro homem.
[1] Onde os livros múltiplos e sensíveis participam da idéia una e eterna de LIVRO.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Canônica epicúrea


Epicuro, segundo Diógenes Laércio, dividiu a filosofia em três segmentos (X, 29): a ética, a física e a canônica. De toda a vasta obra de Epicuro, apenas três cartas chegaram até os dias atuais, a saber: a carta a Menoiceus, a carta a Herôdotos e a carta a Pitoclés, tendo respectivamente como conteúdos predominantes a ética, a física e a astronomia/meteorologia. Mas a obra de Epicuro que trata especificamente da canônica, a qual tinha por título Cânon (κανων) não foi preservada para a posteridade e o que sabemos da canônica epicúrea se deve principalmente a transcrição feita por Diógenes Laércio (na sua obra intitulada Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres) da carta a Herôdotos em que Epicuro fundamenta o conhecimento da natureza (φυσις) através de poucas referências a canônica. Mas o que é canônica? Pretendo esclarecer essa questão simples, mas que não pode ser desmerecida, neste texto em que volto, depois de alguns meses estudando a obra de Epicuro, a comentar a filosofia do jardim.


O termo "Canônica" deriva da palavra grega Cânon (κανων), que pode significar, entre outros significados (segundo o Dicionário Grego-Português e Português-Grego de Isidro Pereira): "molde, princípio", portanto o termo canônica deve ser entendido como o princípio da filosofia, uma introdução à qual todo o desenvolvimento da investigação deve ser moldado, assim como o canôn das escrituras bíblicas deveria se submeter a moldes e regras estabelecidas pelos anciãos, o cânon filosófico de Epicuro deve se submeter às regras e moldes do conhecimento.


A canônica, pois, explicita de que modo obtemos o conhecimento e, claro, o fato de que podemos conhecer. Na carta a Herôdotos Epicuro nos fala que aquilo que conhecemos da natureza deriva do movimento dos átomos que se desprendem dos corpos sólidos e atingem nossos sentidos. As vibrações dos átomos nos corpos fazem com que eles se desprendam, produzindo imagens (ειδωλου) (50) que são capazes de atingir os nossos orgãos sensoriais (αι'σθητηριον), que por sua vez, formam representações (φαντασιαν) em nossa mente, as quais permitem o conhecimento da natureza. Por conseguinte, é necessário outorgar aos sentidos total credibilidade em relação ao conhecimento e admitir que quando erramos não se trata de um falha dos sentidos, mas de uma opinião ou julgamento precipitado.


Observamos que há uma inter-relação entre os segmentos da filosofia de Epicuro, pois a canônica estabelece a possibilidade de conhecer a natureza, mas a própria canônica depende dos conhecimentos físicos para se fundamentar, e o mesmo é visível na ética que depende tanto da física quanto da canônica. Portanto, se há uma divisão na filosofia de Epicuro ela é um expediente utilizado pelos historiadores da filosofia para esclarecer e ordenar melhor o seu objeto de estudo e não uma divisão real no pensamento do filósofo. Espero que este texto tenha sido profícuo no intento de esclarecer um pouco da filosofia epicúrea.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Os filósofos empiristas

O empirismo é uma corrente filosófica que afirma que todo conhecimento humano é proveniente dos sentidos, ou seja, as idéias que temos em nossa mente são advindas das impressões sensíveis. De modo que, nenhuma idéia há na mente humana, por mais complexa que essa idéia seja, que não tenha sido antes uma simples sensação dos objetos externos ou um sentimento interno como raiva, paixão, amor, etc.
HUME
Hume afirma que as impressões são mais vívidas e fortes do que as idéias, pois, quando tento lembrar do gosto de uma maçã que comi ontem, a idéia do sabor da maçã é fraca e embaçada se comparada com a sensação que tive no dia anterior, que era vívida e forte. O mesmo ocorrendo com as impressões internas como medo e raiva, pois um homem que sinta o descontrole da raiva num momento e depois relembre a sensação passada, não perceberá aquele sentimento de raiva com a mesma força. Portanto, as impressões são percepções vívidas e fortes e as idéias percepções fracas e embaçadas.
LOCKE
Ao criticar a teoria das idéias inatas, Locke sustenta que o que nos é inato é a capacidade de conhecer e não as idéias. Sendo assim, surge a necessidade de explicar como se dá o conhecimento. Locke afirma que o conhecimento é formado por idéias derivadas da experiência sensível e da reflexão, pois há idéias oriundas das sensações de objetos externos, como o computador que está na minha frente agora e idéias derivadas da reflexão sobre as operações de nossas próprias mentes, como o pensamento, o duvidar, o crer etc.
BERKELEY
Para Berkeley as idéias são os objetos do conhecimento humano, pois se imprimem na mente através dos sentidos, são percebidas nas operações da mente e são delas que lançamos mão quando nos lembramos de eventos passados, quando imaginamos eventos futuros ou quando criamos seres fantásticos em nossa mente. As idéias vêm à nossa mente através dos sentidos, cada sentido recebe idéias específicas, as quais, quando agem sobre os sentidos simultaneamente, configuram algo como uma fruta, um carro ou uma mesa, pois ser é ser percebido, e por isso, algo só existe quando há quem o perceba através dos sentidos. Portanto, no processo do conhecimento se faz necessário a existência de um agente perceptivo, a saber: a mente ou o eu, pois, as idéias ou sensações não são independentes e não podem existir sem uma mente que os perceba.
BACON
Bacon pretende reformular o saber, demolir a noções falsas que levam o homem ao erro (ídolos) e erigir um saber verdadeiro advindo da experiência, comprometido com a sociedade na medida em que busca torna-la melhor, pois o saber não se resume apenas ao saber, mas saber é poder.