quinta-feira, 8 de março de 2012

O mundo como Vontade e como Representação


"O mundo é minha representação". É com essa constatação que Schopenhauer inicia sua obra máxima - O Mundo como Vontade e Representação. A representação se constitui essencialmente de sujeito e objeto. De modo que para o mundo ser tal qual é, basta que haja ao menos um sujeito no mundo, sem o qual, por outro lado, ele passaria a não mais existir.

Entretanto, quando há um sujeito, há também um objeto e, este, é inteiramente submetido ao princípio de razão: Nada é sem uma razão pela qual é. De modo que a maneira que o mundo se nos apresenta sempre está atrelada às formas a priori, quais sejam, espaço, tempo e as relações causais que resultam da união de espaço e do tempo no entendimento.

Schopenhauer, influenciado por Kant, nos fala do mundo fenomênico e de seu fundamento que está para aquém do fenômeno e o expressa. Porém, diferentemente de Kant, Schopenhauer nomeia esta coisa-em-si, condição da existência de todo fenômeno, identificando-a com a Vontade.

A vontade como coisa-em-si, fundamento de toda realidade, não poderia jamais ser conhecida através das ciências, visto que estas estão presas ao princípio de razão, do qual prescinde a Vontade. Schopenhauer sugere que o método de pesquisa não deve ser o externo, porém, o interno. Pois assim como nosso corpo é um objeto como qualquer outro e nele sentimos a vontade operando em cada ação que cometemos, assim também, por analogia, podemos atribuir vontade a todo e qualquer objeto. Assim a vontade individual do homem é alargada ao mundo mineral e vegetal, configurando uma vontade cósmica que a tudo fundamenta essencialmente.

Vale lembrar que a vontade enquanto essência do mundo não causa os fenômenos, porém expressam-nos, geram-nos. Porque no âmbito da vontade não existe causalidade, muito menos espaço, tempo ou multiplicidade, porém, a vontade é una consigo mesma. Entretanto, segundo Schopenhauer, a Vontade se expressa em graus de objetidade, dos quais as Ideias são a expressão mais adequada da Vontade. O conceito de Idéia é tomado de empréstimo de Platão, segundo o qual as idéias eram modelos ou arquétipos eternos das coisas múltiplas e efêmeras do mundo. Assim, é possível hierarquizar as Idéias segundo seus graus de objetidade, e é isso que faz Schopenhauer. No topo da lista se encontra a Idéia de humanidade, seguindo-se após ela a Idéia do reino animal, depois a do reino vegetal e mineral. Isso nos faz perceber que o real se apresenta de três modos: A vontade una, as Idéias (objetidades da Vontade) e os fenômenos da Vontade (a representação).

Em eterna luta consigo mesma, através de suas expressões, a Vontade sempre gera dor e sofrimento. No entanto a experiência estética pode furtar o homem, pelo menos por um momento, do círculo vicioso de sofrimentos em que está metido. Schopenhauer compreende a obra de arte como o acesso a objetidade adequada da vontade, a Idéia, anterior a toda realidade fenomênica, sendo portanto isenta de qualquer imitação da natureza, antes sendo um exemplar daquilo que a natureza tencionava fazer e não conseguiu.