sábado, 20 de dezembro de 2008

Síntese platônica


Heráclito dizia que tudo era devir, Parmênides, por sua vez, negava o movimento, mas ambos tinham suas razões. E essas reflexões, juntamente com o pensamento abstrato dos pitagóricos, vieram a influenciar Platão profundamente.
A observação da natureza nos leva a constatação de que tudo se corrompe, as coisas fluem, partindo de seu surgimento e indo em direção da degradação, as coisas se transformam, de modo que não posso apreender o ser de algo, pois quando penso conhecer algo este algo já é coisa diversa. Esta reflexão de Heráclito preocupou muito à Platão, ainda mais por parecer tão certa, porém esse pensamento implicava na impossibilidade do conhecimento, além de divergir do pensamento parmenídeo: Ou é ou não é, só posso afirmar o ser daquilo que é, pois o que não é não existe e não posso falar sobre ele; não existe movimento, pois para que algo mude é necessário que ele deixe de ser o que era e passe a ser outra coisa, ou seja, que a coisa passe a ser o que não era, mas esse processo não pode existir, tendo em vista que ele se dá da seguinte forma: ser- não ser- ser. Mas como o que não existe passa a existir? Ou como do nãoser surge o ser? Portanto não existe movimento.
São estes os problemas com que platão se depara: se o movimento existe, então não pode haver conhecimento e se não há movimento como explicar a realidade do devir do mundo? Partindo desse dilema e entrevendo uma solução nas abstrações matemáticas dos pitagóricos, Platão faz uma síntese das teorias de Parmênides e Heráclito e desenvolve a famosa teoria das idéias ou hipótese inteligível.

Platão tenta solucionar o problema afirmando que o mundo do devir e da corrupção é apenas uma cópia imperfeita da realidade ideal que é imutável e incorruptível. Para cada coisa múltipla ou plural existe uma idéia singular que dá existência as essas múltiplas cópias imperfeitas. O mundo do devir é o mundo das opiniões falsas, enquanto que o das idéias é o imutável e verdadeiro. Assim, Platão une, de maneira genial, a filosofia de Parmênides com a de Heráclito. Aristóteles acusa seu mestre Platão de ter duplicado a realidade, embora tal interpretação de Platão não seja corroborada por seus estudiosos. Estes afirmam que o tal mundo das idéias não deveria nem ser chamado de mundo, mas da capacidade intelectual humana de conhecer.


Barbosa R.S

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

EPICURISMO: A FILOSOFIA DA FELICIDADE


O epicurismo, doutrina filosófica idealizada por epicuro, é uma filosofia para vida. A filosofia para epicuro não é apenas uma ciência teorética, mas um saber que se torna prático na medida em que ela nos proporciona o estado de equilíbrio indispensável para alcançar a felicidade, ou em outros termos, a imperturbabilidade da alma (ataraxía).
Para alcançar a felicidade temos que perder o medo da morte, dos fenômenos da natureza, dos deuses e saber que não existe destino determinado, mas apenas liberdade. E tudo isso é alcançado através da filosofia de Epicuro.
A morte, diz Epicuro, é ausência de sensibilidade, portanto, onde não há sensibilidade não há dor, e se não há dor não há o que temer. Esse ponto em questão é derivado de sua teoria sobre a alma, a qual seria material e formada por átomos sutis, e na morte a alma se dissolveria juntamente com o corpo.
O medo dos fenômenos da natureza que não sabemos explicar, seria um empecilho à felicidade, portanto, devemos desenvolver um conhecimento acerca da phýsis. E, por isso mesmo, sua filosofia, que pega de empréstimo conceitos dos atomistas, nos explicam muitas coisas sobre ela.
Os deuses são felizes, por isso são deuses, e portanto não se envolvem com os seres humanos e seus problemas, de modo que não devemos temê-los. O destino, para os gregos, viria justamente da ação dos deuses sobre os homens, mas como foi dito, não há deuses interagindo conosco, logo, somos livres e totalmente responsáveis por nossos atos.
A filosofia de Epicuro, há quem diga, parece uma filosofia de auto-ajuda, concordo em parte, pois é um saber que nos orienta de como chegar a felicidade, mas é a verdadeira felicidade que ela tem por fim, e não a felicidade barata e hollyoodiana dos livros de auto-ajuda.

Barbosa R.S

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

AS QUATRO CAUSAS

Causa Material; Causa Formal; Causa Eficiente; Causa Final.

Para explicar as causas determinadas por Aristóteles é melhor recorrer a um exemplo: um vaso é feito de argila, portanto a argila é a sua causa material; este vaso que imagino só é por mim compreendido porque tem uma forma, pois se não tivesse seria apenas um amontoado de argila, por isso a sua forma é a causa formal; o artífice feitor deste vaso, o qual deu forma à matéria informe, é a sua causa eficiente ou motriz; e finalmente, a causa final é o fim para qual este vaso foi feito, ou seja, para quê ou por que foi feito. Geralmente um vaso é feito para ornamentar um ambiente, sendo, portanto, esta a sua causa final. Só através das causas podemos dizer o ser de algo.
Barbosa R.S

A FILOSOFIA É O SABER POR EXCELÊNCIA





No primeiro capítulo do livro1 da Metafísica, Aristóteles discorre acerca de determinados graus de conhecimento, os quais estão distribuídos entre as espécies de animais. Alguns animais são providos de sensação, mas não de memória, outros têm sensação e memória, mas não possuem experiência, e finalmente, na espécie humana, encontram-se todos esses graus de conhecimento acrescidos da capacidade de raciocínio e arte.
A experiência aparece como um fator mediador entre a memória e a arte, visto que propicia, através de repetidos casos, o poder de fazer um juízo universal. Pois se por 10 vezes que ponho lenha no fogo ela queima, certamente sei que na 11º ela também queimará, e isso é do âmbito da arte. A experiência me diz que a lenha que utilizei queima no fogo, porém não me garante que todas as lenhas que por no fogo queimarão, pois a experiência possui o conhecimento dos singulares, mas a arte o dos universais.
O conhecimento da esfera da experiência, ou seja, o conhecimento empírico, desconhece os motivos ou causas que fazem com que a lenha queime, mas apenas sabe que ela queima, enquanto que o homem de arte conhece as causas específicas que agem para que a lenha queime. Quem é mais filósofo, ou seja, quem conhece mais, aquele que sabe o fato ou o que sabe as causas do fato? Certamente quem conhece as causas, e só este é que pode ensinar, e é evidente que quem pode ensinar é mais sábio que aquele que não pode. Por conseguinte a arte é mais ciência que os conhecimentos empíricos, ou seja, que a experiência.
Porém, a arte é um conhecimento parcial da realidade. Pois ela não conhece as causas da totalidade do real, mas apenas as causas relativas ao seu campo específico de atuação. As artes se multiplicaram em razão das necessidades que surgiam, mas também pelo fato da satisfação que causavam aos homens, e sempre as artes que visavam simplesmente a satisfação eram consideradas superiores que as primeiras, tendo em vista que sua ciência não se sujeitava ao útil. Deste ponto, se entrevê que a verdadeira sabedoria não é uma ciência prática, mas ao contrário, uma ciência teorética, a qual conhece as causas primeiras e possui o conhecimento do universal. E a filosofia aparece como a mais indicada para ocupar este cargo.
A filosofia é o saber por excelência, pois quem a busca não o faz tendo em vista à utilidade, mas ao saber. Com efeito, quem faz filosofia é tomado pelo espanto e admiração por aquilo que desconhece, deste modo procura unicamente o saber para fugir à ignorância, e não em busca do que lhe é útil. O conhecimento filosófico tem seu fim nele mesmo, pois é livre e não está subordinado à utilidade. Ela é a ciência do sumamente conhecível, pois é da sua alçada o conhecimento dos primeiros princípios e das causas, portanto não é uma ciência dependente de outras, mas é a primeira de todas e dela depende todo saber. Ela é a ciência mais genérica, pois trata das causas e princípios, abrangendo todos os indivíduos contidos em seu exame, podendo-se falar numa ciência do universal.
Portanto a filosofia é dentre todas as ciências a que mais merece o título de sabedoria.
Barbosa R.S