domingo, 11 de outubro de 2009

O dionisíaco


Dionísio: um deus bárbaro que onde penetra aniquila tudo o que é apolíneo. Para Nietzsche ele é o oposto de Apolo, pois enquanto este é todo medida e limite o dionisíaco é destruição e libertação “por meio de um sentimento místico de unidade” (NIETZSCHE, 2007, p. 29). Dionísio é o protagonista do rompimento do principium individuationis através de um êxtase que arrebata o iniciado no ritual dionisíaco, propiciando a perda do autocontrole, do limite, afundando-o na completa embriaguez do auto-esquecimento. Assim, o homem, no estado de êxtase e esquecimento de si, volta ao “Uno primordial” (IDEM, p. 28) tendo suas cadeias quebradas, livre de todo e qualquer limite e, deste modo, percebe que a multiplicidade do mundo é apenas aparente e que é obra de Apolo que nos cobriu com o véu da ilusão. Na verdade não há limite nem forma nesse mundo dionisíaco que não é outro senão o nosso mundo. Pois como diriam os Pré-socráticos: “tudo é Um”.
Tendo por característica a desmedida sua arte não tem figura e, portanto, preside sobre a música que em Apolo é ritmo e medida, mas que em Dionísio é a “violência do som” e uma “torrente unitária” (IDEM, p. 31).
Dionísio não é um deus originariamente grego, pois seus rituais já aconteciam no seio de povos bárbaros, de modo que quando ele penetrou nessa cultura grega e apolínea e, portanto, moderada, simétrica e comedida, que mantinha latente em si esse poderoso impulso dionisíaco “artificialmente represado” (IDEM, p. 38), tal penetração veio em forma de embriaguez desconcertante, num gozo fremente que rompeu todo e qualquer limite do “eu” e da forma aparente. E Trouxe consigo o êxtase ilimitado que nos dirige ao Uno primordial num grito que se ouve e que canta todo o universo, em um estado em que já não sou mais eu, nem existe “eu”, nem tu, mas que rasgado o véu de “Maia” percebemos, não com a razão lógica, mas com a imaginação intuitiva que tudo é Um.

Referência:

Nietzsche, Friedrich. O nascimento da tragédia. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Compainha das letras, 2007.