domingo, 19 de junho de 2011

A tecnologia

Acredito que a tecnologia é sempre sobre-determinada sócio-economicamente. Não me esqueço da impressão que tive quando criança, no final dos anos 80, quando me deparei com meu pai diante de uma tela na qual apenas com o toque dos dedos era manipulada. Nunca vira nada parecido em nenhum lugar e não era à toa que o único lugar em que a vi era em um banco. Hoje vemos computadores a torto e a direito, de todos os tamanhos e para todos os gostos, mas naquela época era diferente. Será que foi casual ter visto pela primeira vez em um banco um computador de ponta? Será que era para o bem da população? Atualmente as greves de banco não têm mais a força que tinham no passado, os funcionários são quase dispensáveis, pois até mesmo de casa se podem fazer consultas e transações bancárias.

Por que o metrô, o trem bala e o celular? Pergunte a um executivo japonês de meia idade se todo esse progresso melhorou sua vida. A tecnologia tem invadido tanto as nossas vidas e alterado o nosso modo de viver que parece que tudo está fora de controle. É aí que entra a indústria do lazer para nos livrar do estresse do dia-dia. Todas essas tecnologias são inteiramente interessadas. Elas visam a maximização do lucro ao menor custo possível.

Não acredito na neutralidade da tecnologia, pois se realmente fosse neutra, esperaríamos confiantes pelo desenvolvimento de energias limpas e renováveis. Imagine você abastecendo seu carro com lixo orgânico, de duas uma, ou nunca isso acontecerá ou o preço do lixo aumentará substancialmente e o Brasil finalmente será o país do futuro com todo esse nosso potencial acumulado nos lixões.

A discussão sobre a destruição do meio ambiente pela intervenção tecnológica do homem veio por às claras o fato de que nem mesmo iminentes ameaças são motivos para interromper o impulso do capitalismo na tecnologia.

Hoje somos forçados a crer que precisamos mais que uma mesa e um banquinho, como precisou Robinson Crusoé para se sentir humano e civilizado, longe disso, hoje precisamos de um notebook, uma TV de LCD ou LED, um microondas, um Tablet...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O prometer em falso na FMC de Kant

À questão: posso prometer em falso quando me encontro em dificuldades? Kant distingue os dois sentidos que a questão pode ter: se é prudente ou se é conforme ao dever prometer em falso, enfatizando que essas duas abordagens não são a mesma.

A primeira abordagem, que é mais comum, pergunta-se se é prudente prometer em falso, considerando as conseqüências, visto que da mentira pode decorrer problemas maiores que aquele que se quer evitar. Por exemplo, é prudente observar que perderei todo crédito nas minhas futuras promessas, de modo que a confiança dos outros em mim será profundamente abalada. Em última instância, seria muito mais prudente agir segundo uma máxima universal e nunca mentir.

Entretanto, agir tendo em vista uma máxima universal é totalmente diferente de agir através de uma consideração prudencial das conseqüências de minha ação, pois:

“enquanto no primeiro caso o conceito da acção em si mesma contém já para mim uma lei, no segundo tenho antes que olhar à minha volta para descobrir que efeitos poderão para mim estar ligados à acção”

Observamos, então, que o sentido prudencial em que a questão é posta se relaciona com o agir motivado por outros móbiles que não o respeito à lei moral. Neste caso, podemos ver que, considerar as conseqüências visa à obtenção da felicidade individual. Mas qual o grande problema de agir tendo em vista a felicidade? O problema é que na medida em que uma situação em que observemos que mentir não nos traz problemas futuros mentiremos sem pestanejar.

Para resolver o problema de forma mais rápida e segura Kant nos diz que basta nos perguntarmos se poderíamos querer que a nossa ação viesse a se converter em lei universal. Não poderíamos tornar lei que todos possam mentir quando se encontram em apuros, pois ninguém acreditaria mais em ninguém e não poderia haver mais promessa alguma. E, assim, a minha máxima se autodestruiria.

Porém alguém poderia dizer: Kant não está considerando as conseqüências da ação de prometer em falso, de modo que ela seria também uma consideração apenas prudencial? A resposta para isso é o fato de que se minha ação é motivada por fatores que não a lei moral, minha ação não será constante, pois minhas bases morais serão frágeis. Enquanto que agir segundo e somente pela lei moral sempre produzirá uma ação moral. O modo como Kant escreve pode confundir o leitor nesse ponto, mas que é claramente evidente diante da leitura de toda a seção. Considerar as conseqüências, nesse caso, se limita a questão de saber se prometer em falso numa situação de dificuldade é ao menos conforme ao dever.

Referencias bibliográficas

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2007