sexta-feira, 14 de outubro de 2011

IDEIAS CENTRAIS DO PRÓLOGO À GAIA CIÊNCIA

No prólogo à Gaia Ciência Nietzsche principalmente aborda a relação entre saúde e filosofia. Através de imagens discursivas como “a vitória sobre o inverno” (§ 1) ele fala biograficamente sobre a recuperação – ou apenas mais uma das recuperações – de sua saúde. O autor segue aprofundando a relação que uma filosofia pessoal tem com as próprias disposições corpóreas de um filósofo. Enquanto para alguns filosofar serve como um auxílio as suas deficiências, por outro lado, outros filosofam como conseqüência de sua “força e riqueza” (§2) (seria esse o caso de Nietzsche?)

A doença, a fraqueza do corpo não produz pensamentos diversos daqueles pensamentos refletidos em total equilíbrio e satisfação? Parece bastante sensato dizer sim. É assim que Nietzsche dirá que certos pensamentos sobre o além-mundo são inspirados pela doença e que “talvez os pensadores doentes predominem na história da filosofia” (§2). Deste modo, toda a tradição filosófica teria sido uma má-compreensão do corpo, talvez uma má leitura dos filósofos da sua própria compleição física e dos sintomas do corpo. Deveriam ter observado que tais pensamentos sobre o valor da existência, o além-mundo etc. eram apenas resultantes de se estar indisposto.

Por isso, Nietzsche diz que a questão do filosofar não é a “verdade”, mas a vida, a saúde, o poder, o futuro etc. Se me sinto doente e, portanto, mais cônscio de minha mortalidade, penso na eternidade, a anseio e desejo, não quero “a verdade”, mas sim, o meu consolo, meu apoio. Isso nos leva a pensar no esquecimento do corpo em detrimento do espiritual como coisa mais importante. E deve-se, assim, clarificar que não somos apenas “batráquios pensantes” (§ 3) e demonstrar a influência do corpo na filosofia, o qual não pode, de maneira nenhuma, ser separado da cabeça enquanto “sede” do pensamento.

Assim, uma nova postura se estabelece sobre a verdade, e tal postura só pode advir da experiência da doença e da fraqueza, pois dela “voltamos renascidos e de pele mudada”. “Já não cremos que a verdade continue verdade quando se lhe tira o véu”. (§4)

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