sábado, 5 de setembro de 2009

Voltaire no texto "Sou livre?" e outros da obra O filósofo e o ignorante


Voltaire, no capítulo XIII de sua obra O filósofo e o ignorante, escreve acerbamente, como é de seu feitio, a respeito da liberdade, tomando a posição determinística, num primeiro momento, de que o acaso não existe e de que tudo está sujeito à causalidade que se evidencia na natureza. Pois como o homem, este “animalzinho”, com todas as suas limitações, se elevaria acima das leis da natureza?
Por conseguinte, a vontade humana também se submeteria às leis da causalidade, pois, no momento em que quero, quero porque alguma situação vivida me leva a desejar aquilo que quero. Entretanto Voltaire afirma que os homens têm uma porção de liberdade, qual seja: “o poder que receberam da natureza para fazerem o que querem em muitos casos”. O filósofo toma, então, a perspectiva do compatibilista, o qual não nega a lei de causalidade que rege a natureza e nossas ações, mas que também não nega que há liberdade nelas, ou seja, liberdade não é ausência de causalidade, mas sim ausência de coação, assim como diz Voltaire: “Minha liberdade consiste em andar quando quero andar desde que não sofra de gota” (XIII), pois a liberdade do homem “consiste em seu poder de agir” (LI).
No capítulo LI e nos seguintes, Voltaire discorre a cerca da ignorância dos homens e a sua própria no que concerne aos tempos antigos, a ignorância com respeito a sua própria nação, a ignorância do clero patente nas absurdidades das histórias contadas sobre os ditos santos e de seus milagres, a ignorância proveniente da intolerância e, por último, faz um apelo para que a razão não se submeta ao “monstro” do fanatismo que, ainda nos tempos do iluminismo, surgia com a intenção de cercear a liberdade de pensamento dos homens de razão.
Enfim, as leituras dos textos de Voltaire sempre são prazerosas e acompanhadas de risos espontâneos a cada pilhéria que ele deixa, brilhantemente, nas linhas de suas obras, que se não eram escritas com sangue, como queria Nietzsche, certamente eram escritas com a tinta ácida do descaramento.

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