domingo, 13 de setembro de 2009

Signos linguísticos na obra: Curso de linguística geral de F. Saussure


INTRODUÇÃO

Ferdinand de Saussure na obra Curso de Lingüística geral, que surgiu da reunião das anotações das aulas de Saussure pelos seus alunos, prima pelo esclarecimento do objeto específico da lingüística, o qual, até então, não houvera sido indicado com clareza pelos lingüistas, pois estes se voltavam predominantemente para os fatos externos à língua. É neste ponto que Saussure supera os outros pesquisadores, a saber, em ter dado à lingüística a independência frente às ciências antes indispensáveis a ela.
O pensamento do mestre genebrino veio a desencadear o estudo de uma nova ciência que se mostrava emergente: a semiologia ou semiótica, da qual a antropologia estrutural de Lévi-Strauss é uma parte e a lingüística é outra (só para citar as mais conhecidas). E da linguística Saussure definiu, então, que seu objeto específico de estudo era a língua (la langue) e isso exclui até mesmo a fala (la parole), embora nosso autor traga à tona uma bifurcação no caminho dos lingüistas afirmando que se deve escolher entre dois caminhos impossíveis de trilhar ao mesmo tempo: a lingüística da fala e a lingüística cujo objeto é propriamente a língua. Quando Ferdinand de Saussure define a língua como objeto de estudo da lingüística ele elimina desta ciência todos os elementos externos à língua, como por exemplo, certos fatos históricos de uma língua ou de uma raça. Pois se considerarmos a língua em seu sistema e em suas regras estaremos compartilhando do pensamento de Saussure, mas, se ao contrário, pensarmos que o mais importante são os elementos que não configuram o sistema da língua como os costumes de uma nação que podem ter tido relevância no que tange aos fatos lingüísticos, estaremos indo na contramão da teoria de F. Saussure.
Mas o que é a língua? É em volta dessa questão que pretendo, primeiramente, direcionar minha atenção neste trabalho, pois respondendo a essa pergunta adentraremos no campo que proponho abordar mais detidamente, ou seja, na análise dos signos lingüísticos. E enquanto discorremos acerca dos signos é inevitável que tenhamos de fazer certos esclarecimentos no que concerne às diferenças existentes entre a Linguagem, a Língua e a Fala. No presente trabalho, utilizarei como fonte somente a obra Curso de lingüística geral, não recorrendo a comentadores, exceto aos comentários feitos pelo professor em sala de aula.


LÍNGUA (La langue)

Esclarecido o objeto de estudo da lingüística, é necessário, então, definir o que nosso autor entende como “língua”, e nesta definição é preciso também considerar a contraposição com a linguagem, uma vez que o fato de não destacar as diferenças entre as duas pode ser motivo de confusão, levando o leitor a tomar uma palavra pela outra.
Para Saussure a língua é uma parte, embora essencial, da linguagem, tendo em vista que, a língua é quem possibilita o exercício da linguagem. Enquanto a linguagem é algo natural do homem, pois o homem é por natureza um ser gregário, a língua é uma convenção, da qual os homens se utilizam no contato com os outros. Deste ponto podemos observar que a língua é um produto social e só na coletividade que ela existe por completo, ela é quem unifica a multiplicidade da linguagem em um sistema convencionado. A língua constitui-se, pois, num sistema de signos que correspondem a idéias distintas, sistema do qual poderíamos dizer que é a linguagem menos a fala e que permite alguém compreender e ser compreendido.
Uma vez que Saussure põe em separado o estudo da fala (La parole), inevitavelmente temos que esclarecer o motivo pelo qual o autor, na definição do objeto específico da lingüística, separa e como afirma que é possível separar o estudo da língua e da fala. Vemos na presente obra que comento que seu autor afirma que, embora a língua e a fala sejam interdependentes entre si, pois todos nós, por um lado, aprendemos nossa língua materna ouvindo os outros e, por outro, sabendo que em qualquer situação seria inevitável que o homem tivesse falado primeiro para associar uma imagem verbal a uma idéia, a língua e a fala são coisas distintas. Isso pode ser observado se levarmos em consideração algumas distinções entre a língua e a fala. Pois um homem ainda que seja desprovido de sua capacidade de falar pode conservar a língua contanto que compreenda os outros, mas o contrário é impossível, além de que, os órgãos vocais são exteriores à língua. A língua existe intramentalmente na coletividade, depositada em cada cérebro passivamente e independente da escolha do indivíduo, enquanto que a fala é individual e dependente da vontade do falante. Mas, embora a língua seja psíquica não é uma mera abstração, ela existe concretamente em nossos cérebros e prova disso é que podemos fixar os signos lingüísticos em imagens convencionais, ou seja, podemos escrever esses signos. Percebe-se que a língua é superior a fala na medida em que aquela é essencial e esta é apenas um acessório da língua. A língua é, pois, uma potência aristotélica que se atualiza a cada momento na fala.
E como tinha proposto anteriormente, passemos ao estudo dos signos dos quais esses esclarecimentos eram primordiais e em que já vemos a premência de explicar os signos linguísticos, uma vez que eles fizeram parte dos esclarecimentos acima expostos.


SIGNOS LINGUÍSTICOS

Como já vimos, a língua é um sistema de signos que correspondem a idéias distintas, porém não explicamos o que são esses signos. O que Saussure chama de signos é a união entre uma imagem acústica e um conceito, isso se evidencia se levarmos em consideração que um signo lingüístico não une uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica, dos quais:
a) A imagem acústica ou significante é a impressão psíquica do som, que se dá, por exemplo, quando falamos em silêncio conosco (esse termo do signo não pode ser confundido com o som material);

b) O conceito ou significado é a idéia que se associa a imagem acústica para formar o signo linguístico.

De modo que se investigarmos o circuito da fala, perceberemos a função desses dois termos. Pois quando alguém fala é necessário que um conceito ou significado provoque em nossa mente uma imagem acústica ou significante que seja, por sua vez, projetada pelo aparelho fonador como som material e em seguida seja recebida pelo ouvido de um interlocutor e que tal som seja convertido no cérebro deste em uma imagem acústica que corresponderá a um conceito, é assim, pois, que esses termos do signo funcionam. Estes são realidades existentes no cérebro e são tangíveis na escrita que tem a função de representar o sistema de signos linguísticos.
Outra característica que deve ser levada em consideração aqui é a arbitrariedade do signo ou o fato de que ele é imotivado, pois a idéia de mar não tem relação interna nenhuma com a seqüência de sons m-a-r, ou seja, a idéia de mar poderia ser expressa por qualquer outro signo, uma prova disso é a diferença entre as línguas, pois se em português eu expresso a idéia de menina pela seqüência de sons m-e-n-i-n-a em latim a seqüência de sons dessa mesma idéia é p-u-e-l-l-a (puella). Porém embora a língua seja arbitrária ninguém pode modificá-la, porém em contrapartida o tempo altera evidentemente a língua, de modo que nessa alteração ocorre um deslocamento entre o significante e o significado, mas a língua considerada em sua evolução é um caráter da lingüística diacrônica estabelecida por Saussure em sua obra, onde ele contrapõe a linguística estática ou sincrônica à lingüística diacrônica, porém esta não é o foco das atenções neste trabalho e sim a linguística estática. Uma observação que deve ser feita é a de que o significante ou a imagem acústica não pode ser confundido com um símbolo, pois este não é arbitrário e, portanto, não pode ser substituído por qualquer outro símbolo. De fato se imaginarmos o símbolo da justiça, ou seja, a balança é evidente que não poderíamos trocá-lo por, por exemplo, um carro. Uma vez que este último não goza de uma relação interna com a idéia de justiça, acontecendo exatamente o oposto com a balança que traz consigo significados que remetem à justiça, como a equidade, honestidade etc.
Como um último ponto a ser tratado neste trabalho a respeito dos signos, gostaria de falar acerca do valor do signo lingüístico e para isso abrirei um pequeno tópico em um parágrafo curto para falar rapidamente acerca deste ponto importante da teoria de Saussure.

VALOR DO SIGNO LINGUÍSTICO

O valor de algo, seja lá do que for, sempre é constituído em dois aspectos: na relação de semelhança entre algo e algo para termos de comparação e, contrariamente, na diferença de alguma coisa com relação a outra para ser trocada por ela. Pois uma moeda de cinco centavos, no segundo caso, pode ser trocada por uma bala, de modo que o valor da bala fica determinado pela diferença ou dessemelhança com relação à outra coisa. E para exemplificar o primeiro caso podemos dizer que o valor da moeda de cinco centavos pode ser comparado com uma moeda de mesmo valor de um outro país, por exemplo, cinco centavos de dólar, de modo que o valor da primeira determina-se em função da segunda. Do mesmo modo os signos definem seu valor através da semelhança ou dessemelhança com relação a outros signos, ou seja, os termos são determinados pelas palavras que o rodeiam, e tem sempre seu valor definido negativamente, de modo que sabemos o valor de um signo somente quando ele é relacionado aos signos que ele não é.

CONCLUSÃO

A teoria de Ferdinand de Saussure teve influências profundas na Filosofia, na Antropologia, Psicologia e óbvio na Lingüística, seus conceitos serviram de base para o desenvolvimento do Estruturalismo e da Semiótica. E o curso de lingüística geral, que conhecia só de nome, surpreendeu-me com a genialidade do pensamento de seu autor, de modo que se tornou patente para mim o lugar desta obra como um marco das ciências humanas que deve ser lido pelos alunos de qualquer curso ou por todo aquele que ama o saber e está aberto a conhecer o pensamento dos grandes homens. Neste trabalho me limitei a esclarecer alguns pontos da lingüística sincrônica, parte da obra que, sem dúvida, carrega a sua maior originalidade. Enfim remeto ao tema escolhido citando um trecho do Curso de lingüística geral: “sem o recurso dos signos, seríamos incapazes de distinguir duas idéias de modo claro e constante”.

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